sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pobreza Olímpica

O governo tinha grandes esperanças, do tipo “nunca antes na história desse país...”, nestas Olimpíadas. No entanto não é possível contornar a total falta de apoio, que nossos esportistas vivenciam, com palavras bonitas, quem sabe criem uma “bolsa esporte”?
O pouquíssimo que tiveram a oportunidade de alcançar uma medalha, não importa de que tipo, são verdadeiros heróis e os que por alguma fatalidade fortuita, perderam-nas no último momento, externaram a pressão a que foram submetidos. Está claro que o esforço desses atletas foi formidável e o mérito só de serem classificados para participar, junto a atletas formidáveis de todo o planeta, por si só já é uma premiação. Não temos tradição em considerar nada menos que o “ouro”, como algo digno.
A única exceção foi o futebol, que mais uma vez vai ficar sem medalha, pois a postura dos atletas, diferente das outras modalidades, é acomodada nos números de seus altos salários, diferente, por exemplo, das “meninas” que sem apoio nenhum lutam e dão o sangue, para conseguir um lugar ao sol. Torço pelo seu ouro, que se lhes escapou das mãos no último momento.
Foi emocionante ver a dignidade com que a seleção de vôlei enfrentou a decepção da derrota na final frente aos americanos, é a única manifestação de ação coletiva exemplar em nosso esporte, somo um povo individualista, como demonstrou nossas medalhas de ouro, onde verdadeiros heróis conseguiram sobrepujar atletas fantásticos e trazer para si o reconhecimento internacional de sua competência.
Os deuses entretanto, sorriram para as meninas do vôlei, que tanto sofreram, por falta de equilíbrio emocional, não por falta de competência esportiva, em Atenas.
Foi emocionante ver a vibração dos pouquíssimos bem sucedidos, nossos políticos os assediarão incansavelmente, neste período pré-eleitoral, tentando capitalizar votos no sucesso desses heróis que ouvirão as promessas de praxe, declarando sua total dedicação ao desenvolvimento do esporte no nosso país.
Vivemos tempos onde o uso da mídia, tornou-se infinitamente mais sofisticado (o que tem duplo sentido mesmo, tenham curiosidade e vejam no “pai dos burros” o real significado de sofisticação). Hoje tudo é calculado para capitalizar votos, até as desgraças, afinal o que importa é o poder. Bons tempos aqueles em que a motivação dos políticos era mais simples, só roubar, hoje em dia é alcançar o poder para roubar impunemente, porque em nosso país nada acontece com os poderosos, não importa o que façam.
Agora vamos tentar sediar os jogos de 2016, não seria melhor investir no treinamento de nossos atletas, do que nas obras faraônicas, necessárias à infra-estrutura de tal evento? Acredito que as obras darão maiores possibilidades de superfaturamento. Cinismo? Talvez. Mas nossa história nos ensina sobre o que é mais importante, para os poderosos.
O povo Brasileiro é uma salada de etnias, responsável pela falta de identidade que o caracteriza, isso somado à educação deficiente é suficiente para causar essa característica individualista e alienada dos problemas coletivos. Somos uma sucessão de estórias de luta individual pela sobrevivência, tal qual aquele admirável lutador de judô, que sem recursos, patrocínio ou apoio de qualquer espécie, chegou perto de uma medalha de bronze. Mais impressionante ainda foi a dignidade e a coragem em admitir, que faltou algo para atingir seu objetivo, sem culpar juizes, fatores externos e até sua própria falta de recursos, como responsável pelo seu fracasso. Fracasso? Não vitória em chegar onde chegou. Mais admirável ainda foi o apoio de sua família, simples como a maioria absoluta deste povo, mas que tem uma dignidade instintiva, que mantém uma esperança no futuro deste país, a despeito da sua classe dominante e governante.

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