terça-feira, 2 de outubro de 2007

Memória fraca

É interessante a natureza de nós brasileiros. Quem sabe, viram ontem entrevistas com passageiros, no aeroporto de Congonhas, depois da implantação da nova distribuição das freqüências aéreas.
Vários reclamaram do incomodo, no deslocamento de vários vôos para Cumbica, com as limitações de carga, tamanho e distância máxima dos vôos que partem deste aeroporto.
Incômodo? Não entendo, ha pouco mais de um mês estavam todos indignados, com as causas do terrível acidente da TAM neste aeroporto. Assistimos a intermináveis entrevistas, análises sobre as causas, protestos contra as autoridades, responsáveis por tornarem um aeroporto com tantas limitações, no maior centro distribuidor de vôos do país.
Ha cerca de vinte anos, quando Guarulhos/Cumbica foi inaugurado, Congonhas foi efetivamente reduzido a um aeroporto regional e assim ficou muitos anos, então em nome do "conforto" e do faturamento/lucro, foi gradativamente incrementado seu número de vôos e no alcance dos mesmos. Novas reformas e aumento da capacidade de transito de passageiros foram feitas, os aviões com maior capacidade. No entanto, fora pequenas alterações, as pistas continuaram as mesmas, até porque não tinham e continuam sem ter, possibilidade de serem aumentadas, sem incorrerem em custos inviáveis.
Portanto o que ocorre agora, é o mesmo que ocorria ha muitos anos, o que nunca deveria ter sido modificado. Não falamos ainda nas obras, suspeitas de superfaturamento, para aumentar a capacidade de transito de passageiros, a construção de enorme estacionamento novo, etc. Não seriam necessárias se não fosse incrementada sua capacidade. Como sempre alguém ganhou com isso. E agora? Pra que servirá toda esta capacidade, se o número de passageiros continuar caindo, como inevitavelmente ocorrerá. Congonhas ficará, como estava ha 15 anos, com espaços ociosos, áreas abandonadas, como é de costume em coisas geridas pelo poder público. O dinheiro das reformas já foi gasto e embolsado pelos espertos de plantão.
Incomodo??? Esquecemos fácil as críticas que fazemos, a indignação por tantas mortes inúteis, ceifadas por uma cruel cadeia de circunstâncias, onde um dos fatores importantes foram as limitações físicas, de um aeroporto que foi engolido por uma cidade sedenta de crescimento.
Somos uma triste caricatura de um povo individualista, sem nenhum senso de coletividade, que "justifica" seu voto, para reduzir um importantíssimo momento cívico, a um simples feriado.
Somos acostumados à lei do mínimo esforço e responsabilidade.
Nossa memória coletiva, não só é fraca para os fatos e personagens políticos, ela é fraca também na defesa de nossa sobrevivência.
Muito triste isso.

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